O interior de Portugal continua a perder população e a envelhecer, apesar de alguns esforços institucionais para inverter esta tendência. Desde Trás-os-Montes ao Algarve, vastas áreas do país enfrentam um esvaziamento progressivo, resultado da emigração, da deslocação interna para os grandes centros urbanos e de um saldo natural negativo — ou seja, mais óbitos do que nascimentos.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2023, as nove Comunidades Intermunicipais totalmente inseridas no interior somavam cerca de 1,29 milhões de habitantes — menos 130 mil do que em 2011. Um cenário que levanta sérias preocupações quanto à sustentabilidade social, económica e cultural destas regiões.
Nem todo o interior enfrenta os mesmos desafios. Há zonas marcadamente isoladas, com envelhecimento demográfico histórico, e outras regiões mais próximas do litoral que até há pouco tempo tinham dinâmicas populacionais mais positivas, mas que hoje também sentem o impacto da perda de população jovem. Em ambas, a escassez de residentes em idade ativa agrava a fragilidade dos territórios.
 
Medidas Simbólicas Ainda Sem Efeito Real
Nos últimos anos, foram criados diversos apoios para fixar jovens no interior: subsídios à natalidade, programas de habitação, incentivos fiscais, entre outros. No entanto, muitos destes incentivos têm um impacto reduzido — quer pela sua natureza pontual, quer pela limitação dos valores atribuídos.
No campo da habitação, destacam-se medidas como as isenções de IMT e Imposto do Selo na compra da primeira casa por jovens até aos 35 anos, o programa Porta 65 ou os créditos com garantia pública. Apesar de bem-intencionadas, estas medidas nem sempre têm correspondência prática com a realidade do mercado imobiliário local e os rendimentos médios da população jovem nestas regiões.
 
Um Olhar Mais Abrangente é Necessário
Os apoios à habitação são importantes, mas não bastam. Os jovens procuram, acima de tudo, qualidade de vida: emprego estável, acesso a serviços públicos, boas ligações de transportes, educação e saúde. Sem estas condições estruturais, torna-se difícil reter ou atrair novas famílias para o interior.
Além disso, a mentalidade das novas gerações valoriza hoje a mobilidade e a flexibilidade. Muitos jovens não pretendem "fixar-se para sempre", o que exige políticas públicas mais adaptadas, que incentivem não só a permanência, mas também o regresso ou a chegada de novos talentos — nacionais ou estrangeiros.
 
A Imigração Ajuda, Mas Não Chega
A chegada de imigrantes tem ajudado a atenuar o despovoamento em algumas zonas, especialmente desde 2021. No entanto, esta realidade ainda é incipiente e insuficiente para equilibrar o saldo demográfico negativo, que só em 2024 foi de menos 33.732 pessoas no país — sendo a Grande Lisboa a única região com crescimento populacional.
 
Caminho Sustentável Passa por Políticas Integradas
É urgente uma estratégia coordenada entre autarquias, governo e setor privado, com foco em políticas estruturais. O desenvolvimento do interior passa pela valorização das comunidades locais, pelo apoio a projetos inovadores e pela criação de redes de cooperação territorial. Só assim será possível tornar estes territórios atrativos para viver, trabalhar e constituir família.
Os incentivos direcionados aos jovens são uma peça importante deste puzzle, mas só farão verdadeira diferença se inseridos num plano mais amplo e ambicioso. O futuro do interior de Portugal depende disso.


FONTE: SUPERCASA
Geral